Inesperadamente, enquanto pesquisava sobre a Inquisição, eu me deparei com um texto de um teólogo atual do qual eu já ouvi católicos ferrenhos falarem muito bem, Leonardo Boff. O autor, após ser muito criticado pela Igreja católica, distanciou-se da instituição de sua fé sem abandoná-la completamente. Reflexões diante da postura da “Congregação para a Doutrina da Fé”, liderada pelo então cardeal Joseph Ratzinger, hoje Papa Bento XVI, levaram Boff (1993) a escrever:
“O espírito que fez surgir a Inquisição perdura na Igreja romano-católica, pois persiste a predominância do corpo clerical sobre toda a comunidade e a visão piramidal da Igreja, centrada no poder sagrado (…).
Ela continua na mentalidade e nos métodos da atual Congregação para a Doutrina da Fé. As modificações históricas, ao nível estrutural, são praticamente nulas. Evidentemente, não se condena mais à morte física, mas claramente não se evita a morte psicológica. Pressiona os acusados até o limite da suportabilidade psicológica.” (p. 24-25)
Provavelmente, o autor se referia apenas às restrições que Igreja impunha diante de suas idéias consideradas distantes da doutrina pregada pela instituição. Esse mesmo texto o faria vivenciar a experiência de ter suas idéias podadas pela instituição de sua fé e, após essa decepção, provocaria seu afastamento (por vontade própria) da vida clerical. Mas é evidente que isso se aplica às outras proibições que ela vem querendo impor: o uso da camisinha e outros métodos contraceptivos, a legalização do aborto, o uso de células-tronco, a institucionalização da união homossexual, a criminalização da homofobia, entre muitos outros.
Indo um pouco além, frei Betto, dominicano e adepto da mesma Teologia da Libertação de Leonardo Boff, menciona que “ninguém escolhe ser homo ou heterossexual. A pessoa nasce assim. E, à luz do Evangelho, a Igreja não tem o direito de encarar ninguém como homo ou hétero, e sim como filho de Deus, chamado à comunhão com Ele e com o próximo, destinatário da graça divina”.
A Igreja católica, grande moldadora da consciência das pessoas, parece imutável nos seus mais de dez séculos de existência. Entretanto, é evidente que há uma mudança de pensamento radical no chamado baixo clero, aquele que possui o verdadeiro poder de persuasão. Os muitos preconceitos estão caindo por terra e, talvez, todos possamos ser quem somos sem medo em um futuro próximo.
Por fim, eu deixo uma frase a todos que se arriscam, por quaisquer motivos, a arder eternamente no inferno. E também àqueles que têm medo de arriscar, quem sabe. Também deixo um vídeo, uma propaganda linda contra o bullying homofóbico nas escolas, promovendo a idéia da amizade entre os jovens como uma maneira de combater esse mal.
A frase foi escrita pela maravilhosa Marion Zimmer Bradley, em seu famoso livro As Brumas de Avalon; o vídeo foi criado como parte da campanha BeLonG To, feita pela Stand Up! LGBT Awareness Week.
“Se o pecado é o preço de nossa união, (…) então pecarei alegremente e sem lamentar, pois isso me leva de volta a você.”
Fontes:
BETTO. Os gays e a Bíblia. Disponível em: <http://www.planetaosasco.com/oeste/index.php?/2011052814398/Nosso-pais/frei-betto-a-igreja-nao-tem-o-direito-de-encarar-ninguem-como-homo-ou-hetero.html>. Acesso em: 28 maio 2011.
BOFF, Leonardo. Inquisição: Um espírito que continua a existir. EYMERICH, Nicolau; PEÑA, Francisco. Manual dos Inquisitores. Brasília: Fundação Universidade de Brasília, 1993. p. 7-28.